Quando o filme “Fight Club” foi lançado, em 1999, o carismático Tyler Durden (interpretado por Brad Pitt) surgiu com um guarda-roupa repleto de cabedal. Um dos casacos usados, representativo do estilo motard, replicava as riscas brancas sob uma superfície vermelha que muitos pilotos de motas usam. O look não só representava a imagem badass do protagonista, como previa aquele que se tornaria um dos estilos predominantes em 2022.
A estética típica dos equipamentos desportivos usados no motociclismo tem sido adaptada e reinterpretada ao ponto de se tornar um visual frequente nas ruas. Alguns dos traços que não podem faltar na tendência inspirada nas roupas destas corridas radicais são apontamentos de cor às riscas, o estofamento e o couro. Podem surgir em vestidos, mas estão a ser recriados sobretudo em casacos e calças, misturando o caráter utilitário e a estética.
Com os videojogos dos anos 80 e os famosos carrinhos de brinquedo Hot Wheels, o mundo começou a ficar familiarizado com o visual fora das pistas de dirt jumping. No entanto, a popularidade desta estética atingiu o pico duas décadas depois, em 2003, com a icónica cena de motocross grava para “Charlie’s Angels”. Graças ao elenco que contava com Lucy Liu, Drew Barrymore e Cameron Díaz, três símbolos de beleza, percebeu-se que o traje podia ir além do nicho para o qual eram utilizados. Algumas pessoas com um estilo mais arrojado começaram a sair à rua com aquele tipo de calças e casacos, mas nunca chegou a alcançar o mainstream.
Felizmente, o estilo está de volta com ainda mais força — e só nos resta agradecer à máquina imprevisível que faz a indústria da moda mexer. No desfile para a estação fria de 2015 da Vetements, a principal responsável pela tendência, surgiu uma modelo com um casaco de couro pesado, que chocava tons de vermelho e azul. A insígnia sempre foi conhecida por transportar elementos inusitados para propostas de luxo e, com esta criação, voltou a fazê-lo.
Seguiram-se várias coleções de alta moda com o mesmo mote, de marcas como Diesel Black Gold, Moschino e até Versace, estimulados pela criatividade que o motociclismo despertou. Porém, só quando um visual chega às ruas é que se torna realmente um fenómeno. Tal está a acontecer no ano de 2022. Atualmente, o motocross é uma das maiores inspirações para muitas das novas coleções das lojas de fast fashion, com peças de estilo algo improváveis. A Bershka é o principal exemplo. As roupas não foram desenhadas para arrancar numa motocicleta, mas para se afirmar nas ruas.
Rosalía, um dos maiores fenómenos musicais da atualidade, é uma das responsáveis pelo recente fascínio pela tendência. Na sua nova era, aquando do lançamento do novo disco “Motomami”, lançado em março deste ano, assumiu uma identidade estética em torno do estilo motociclista. Não use como acessório os capacetes que a espanhola usa muitas vezes em palco — guarde-os para os momentos adequados —, mas inspire-se nas propostas de couro colorido, edgy e inovadoras. Foi o que insígnias como Balmain, Louis Vuitton, Dion Lee Givenchy fizeram nos seus últimos desfiles.
Os detalhes que apaixonaram a cantora são os mesmos que levam muitae mulheres a dirigirem-se às lojas em busca de modelos semelhantes. Por um lado, é mais um dos efeitos colaterais da pandemia e da necessidade de escapismo que surgiu. Ao mesmo tempo, oferecem são peças que oferecem uma imagem poderosa e abandonam a narrativa de que uma mulher que pratica este género de desportos como uma figura máscula.
Recentemente, marcas como a Balenciaga e a Gucci, por exemplo, têm tentado posicionar-se num segmento de luxo que recontextualiza elementos do sportswear através de colaborações improváveis. Ambas as etiquetas se juntaram à Adidas para uma criarem uma seleção de vestidos, sweatshirts, casacos e sapatilhas para um encontro de dois mundos que se confluem. Madonna e o filho, David Banda, não ficaram indiferentes aos looks.
“Hoje, as roupas desportivas invadiram completamente o espaço do prêt-à-porter. Enquanto nos anos 90 era mais uma justaposição, como emprestar elementos desportivos para serem usados como consequência de um estilo, hoje a mutação está completa”, disse Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci à “Vogue”.