A geração Z, nome dado a todos aqueles nascidos entre a segunda metade dos anos 90 até ao início de 2010, tem sido responsável por uma grande alteração no pensamento da sociedade. Segundo um estudo americano publicado em 2021, 1,2 milhões dos cidadãos daquele país identificavam-se como não-binários. Ou seja, não se identificam nem como homens nem como mulheres. A indústria da moda está a acompanhar esta tendência, e cada vez mais vemos novas marcas a apostarem em coleções que fogem ao binário.
Este fenómeno também se está a fazer sentir em Portugal, e a Click It, uma marca de camisas lançada em maio, pretende desconstruir aquilo que é o género, e os papéis e regras a ele associados, com o lançamento de peças que ficam bem em todos, independentemente daquilo com que se identificam.
“No ano passado despedi-me do trabalho onde estava”, começa a fundadora Inês Duarte, de 29 anos. Estava na área da decoração e era a responsável da Península Ibérica na sua empresa. “A escolha não foi fácil, mas precisava de um desafio maior. Tinha um cargo muito bom”, mas sentia que já não havia espaço para evolução.
A ideia da Click It e das camisas sem género surgiu durante uma simples viagem de autocarro. Olhou para uma passageira que lhe chamou a atenção. “Uma rapariga tinha uma camisa branca e uma gola leopardo. Era uma opção diferente, mas não ia além disso e não dava para fazer mais nada com ela”, recorda.
A camisa é uma peça que já todos temos no armário, mas a proposta da marca não é apenas mais uma. O colarinho pode ser removido e trocado por outras cores e padrões diferentes, tal como o bolso. “Com algo básico conseguimos ter vários looks diferentes para muitas ocasiões: para ir trabalhar ou beber um copo. Só é preciso fazer esta mudança”, explica.
Não é um processo complicado e demora apenas segundos. Tanto o colarinho como a camisa vêm com molas que depois se ligam — e que acabam por ficar escondidas pelo tecido.
Para tornar a peça unissexo, optou por um aspeto oversized. “O que define a construção de uma camisa é o seu tamanho. Quando seguimos esta abordagem fica a servir a qualquer pessoa, independentemente também do corpo”, realça. Para criar uma proposta ainda mais abrangente, disponibilizam todos os artigos do XS ao XXXL, não deixando ninguém de fora.
“A desconstrução da questão binária faz cada vez mais parte da sociedade, e não é uma peça de roupa que vai definir o nosso género, especialmente quando já temos tantas pessoas a lutar pela sua identidade”, explica a fundadora. “Não vou lutar contra o mundo e vou encontrar linhas mais retas no design das camisas, mas o objetivo é que toda a gente se questione sobre o género da roupa”, acrescenta. Mas garante que até quem é cisgénero e heteronormativo pode adquirir as diferentes peças.
Têm três tipos de golas diferentes para a mesma camisa, e o objetivo é que cada pessoa se encontre e se sinta representada na sua escolha. “Temos a clássica, com um corte normal, uma romântica com um aspeto redondo e outra mais bicuda, que chega ao bolso da camisa”, refere. Em termos de cores têm quatro propostas: verde, azul, amarela com texturas e um padrão que as junta todas.
As peças são vendidas em separado, para que consiga criar a sua roupa de sonho. As golas custam 26€, a camisa 53€ e os bolsos 18€. No futuro, planeia criar um vestido também não-binário, “onde a ideia poderá ser trocar as mangas”, revela. Caso esteja interessado nesta fórmula revolucionária, pode passar pelo site da marca.
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