A relação entre a moda e a street art já não é recente. São duas formas de expressão artística e de comunicar que são posteriormente, traduzidas em visuais contemporâneos. No caso do segmento do streetwear, as referências à arte urbana são uma constante. No cenário português, o street artist Edis One, de 32 anos, é o exemplo de um criativo que transportou o seu trabalho para o universo do vestuário.
Nascido em 1990, em Lisboa, esteve sempre ligado ao mundo das artes. Em 2007, quando começou a mergulhar no mundo da arte urbana adotou o pseudónimo Edis One, que acabou por ser desenvolver como uma marca própria. Tornou o hobby numa profissão em 2011 e desde então tem vindo a trabalhar diariamente para viver da sua arte em Portugal, apesar dos obstáculos sentidos. Natural de Benfica (em Lisboa), tem procurado mostrar o seu trabalho um pouco por toda a capital, mas nomeadamente no bairro onde cresceu.
À conquista do mundo
Ainda assim, já pintou um pouco por todo o mundo, de Amsterdão a Bali, por exemplo. Um dos pontos altos da sua carreira aconteceu em 2016, quando participou na realização do maior mural do mundo pintado com luz negra, que fez com que entrasse para o livro de recordes do Guiness. O feito aconteceu em Ras Khaimah, nos Emirados Árabes Unidos.
“Tenho-me desafio a mim mesmo, porque com a arte urbana tenho em mãos um poder enorme de comunicação”, explica o artista à NiT. Muito antes de se aventurar na criação de roupa, desenvolveu o projeto “Original Extinction Art Project”, em 2018, onde aliou a sua paixão pela vida selvagem com a preocupação com a mesma no contexto do futuro planeta: “Comecei por criar murais, que é o foco e a nossa missão. O ponto de partida foi a na criação de murais com animais em vias de extinção.”
Em 2019, tornou-se embaixador da ANP|WWTF, uma das maiores organizações não-governamentais com um papel ativo na preservação de espécies, florestas e habitats. Esta preocupação acentuou-se em 2020, um ano de reflexão em relação ao projeto, que queria tornar mais sério enquanto mantém o dinamismo do seu trabalho, já que “se estiver sempre a desenhar a mesma coisa, a magia perde-se”.
O nascimento da marca
“Tenho de saltitar entre trabalhos que nada têm a ver [uns com os outros]”, diz. Com esta ideia em mente decidiu arrancar noutra direção, montar uma equipa e investir numa marca em 2022. No início, era apenas mais um dos muitos sonhos que tinha — num mercado onde é difícil vingar e numa área completamente diferente da sua. No entanto, tornou-se num negócio com um propósito: o de alertar para as espécies para em vias de extinção. Além disso, “quem não tem dinheiro para ter murais ou um quadro, ao vestir uma peça de roupa da Extinction, onde 5 por cento de todas as vendas são doados ao World Wide Fund (WWF)”.
Lançada oficialmente a 28 de maio, a boa aceitação da marca é “um reflexo de que sonhar faz bem e, por vezes, faz-nos falta”. Durante a pandemia, muitos sentiram necessidade de uma maior proximidade à natureza, com as pessoas a praticarem mais desporto, a andarem mais de bicicleta e a fazerem caminhadas. É também o reconhecer deste sentimento generalizado que está na base do lançamento.
“Quis, um bocadinho, trazer de volta a proximidade à natureza. E, normalmente, as marcas trazem a natureza para a cidade na comunicação. A nossa comunicação é no sentido inverso, da cidade para a natureza”, sublinha. Todo o vídeo de apresentação da marca de roupa começa na cidade e acaba na natureza. “No caso específico da arte urbana, muitas vezes os animais são trazidos para a cidade, para levas as pessoas a refletirem sobre os locais de onde eles vêm e o mal que o ser humano lhes está a fazer.”
A Extinction é uma etiqueta 100 por cento streetwear, refletindo aquilo que Edis One é enquanto indivíduo e artista. “Cada pessoa tem a sua forma de se vestir. Eu tenho um estilo mais simples e low-profile e o conceito acaba por refletir um bocado isso”, explica. “Qualquer um pode vestir a minha marca, porque o objetivo é sensibilizar o maior número de pessoas, tanto um desportista como um business man ou um médico. Se definirmos targets, públicos muitos específicos, estamos a reduzir a nossa audiência.”
A sustentabilidade é parte indelével do objetivo da marca e a produção passa pelo uso exclusivo de material reciclado, como o algodão orgânico. O facto de terem começado a projetar a etiqueta com antencedência, em dezembro, fez com que arranjassem uma empresa que produz todo o layout das peças, uma gráfica portuguesa. “Não digo que a marca é made in Portugal, porque as peças são feitas lá fora, mas o produto final é feito cá. São peças made in Europe.”
É o próprio Edis, porém, que faz todos os desenhos. No caso do logótipo, que se tornou o ícone da marca, apresenta um elefante com o monte Quilimanjaro atrás. A imagem partiu de um fotografia tirada pelo artista numa viagem ao Quénia, em outubro, quando fez um safari e aproveitou para retratar animais, que tem vindo a desenhar: “Enquanto criativo, estás sempre a produzir, a cabeça está sempre a mil.”
Além do vestuário, a oferta conta com duas obras de edições limitadas feitas em azulejo, uma forma de se aproximar ainda mais do seu trabalho fora da produção de moda. “Fiz esta edição limitada por ser um suporte tipicamente português e porque, na minha carreira profissional, já trabalhei em edifícios com azulejos. Tenho obras com cortiça e azulejo.”
“A marca, na sua essência, está ligada à arte urbana. Mas, visualmente, não tens um apontamento em que digas, ‘isto é, street art’, como tinta espalhada pela sweatshirt”, conclui. “Num futuro próximo, iremos lançar edições limitadas de peças com mais arte urbana inserida na roupa”, avança.
Por enquanto, pode comprar as peças já desenvolvidas por Edis One no site da Original Extinction Art Project, com os preços entre os 35,99€ e os 65,99€.
Veja na galeria e descubra alguns dos modelos disponíveis.