O sangue menstrual é uma das raras exceções em que o derrame não é provocado por cortes, acidentes ou atos violentos e, ainda assim, continua a ser visto como impuro. O debate em torno da normalização do período menstrual continua a dar que falar e junta cada vez mais vozes.
Margarida Nobre tem 27 anos e pinta — literalmente, devido ao seu background em artes — a mulher como uma figura etérea e transcendental. “Já tinha o atelier onde faço as minhas pinturas e sempre pensei juntar o mundo têxtil”, conta a fundadora. “E isso fez mais sentido quando pensei em juntar este conceito em particular.”
Apesar dos escassos conhecimentos acerca da indústria da moda e de trabalhar como designer a tempo inteiro, a criadora conseguiu conceber uma ideia inovadora no contexto da produção portuguesa. Lançou a La Que Sabe, em meados de 2021, com um look and feel que idealizou. A delicadeza e a sensibilidade artística são unidas à terra, à natureza e a tudo o que é intrínseco ao ser humano.
“Por um lado, quis trazer de volta a conexão que as mulheres têm com a natureza”, avança. Começou a pesquisar mais sobre o tema por necessidade pessoal e sentiu-se envolvida pela magia que envolve o mundo feminino. “Com a sensibilidade que a pintura me traz, comecei a fazer quadros em torno do tema e do conceito da mandala lunar. Transformou-se numa jornada de mim para outras mulheres”, acrescenta Margarida.
A primeira coleção de lenços de seda representa as quatro fases do ciclo feminino, ou seja, a pré-menstruação, a menstruação, a pré-ovulação e a ovulação. A criativa transforma a sua interpretação artística dos quatro momentos do ciclo em peças usáveis, sempre com as bases na pintura: “Como sou muito ligada às cores, através da minha profissão, fiz vários estudos de padrões através do Margarida Atelier”.
Com o lançamento, a designer procura despertar a consciência da mulher sobre cada fase do ciclo e as respetivas oscilações: “Cada uma está ligada a certas características e às flutuações que atravessamos ao longo do mês. Esta sabedoria corporal é tanto no mundo físico, como no mundo espiritual”.
Numa fase de desenvolvimento pessoal, Margarida sentiu necessidade de se conhecer enquanto mulher e aprofundou o conhecimento sobre o ciclo feminino, onde vai buscar inspiração para a criação das suas peças.
A emotividade é algo intrínseco ao trabalho da La Que Sabe, que é movida tanto pelo valor artístico como pelas questões técnicas. A ligação é notória nos padrões dos lenços, para mulheres de várias idades, formas e culturas, que foram estruturados em torno do conceito da mandala lunar.
A ligação à terra é concretizada através da preocupação ecológica, desde a confeção aos fornecedores, passando pelo material. “Conversámos com nossos produtores para não haver desperdício de tecido, por isso optamos pelo processo de fabricação por encomenda. Pode ser um tempo de produção mais lento, mas podemos garantir que desta forma não desperdiçamos tecido”, conclui. O foco está na longa duração das peças e na procura de soluções para minimizar o impacto ambiental.
O nome da marca surgiu depois de um dia na praia com uma amiga que se entusiasmou pela ideia ambiciosa de Margarida, e veio de um livro sobre o poder interno feminino. De forma muito espontânea, folheou-o e não hesitou: “‘la que sabe’ era o nome que se dava a velhas sábias que conheciam tudo sobre as mulheres” e nada fez mais sentido. Uma homenagem “à mulher que se quer conhecer”, conclui Margarida.
Os lenços de edição limitada estão todos disponíveis no site da La Que Sabe. Carregue na galeria para conhecer as peças e os respetivos preços.