As redes sociais tornaram-se veículos perfeitos para difundir tendências estranhas. Recentemente falamos da moda de sair à rua vestido como um palhaço, a clowncore e, agora, chegou a vez de abordarmos o mais recente acessório must have: a balaclava.
Se tem prestado atenção às fotos que vão sendo partilhadas no Instagram, provavelmente já reparou nas múltiplas celebridades e influencers que a usam. Apesar da peça se assemelhar a uma máscara de ski, não é usada apenas para praticar este desporto. Este gorro feito em malha que cobre a cabeça e pescoço começou por surgir em 1850, durante a Guerra da Crimeia. A sua principal função era ajudar os soldados a manterem-se quentes nas geladas temperaturas dos invernos russos.
O acessório atualmente no zeitgeist da moda mantém o mesmo propósito. O que difere, comparativamente à finalidade para que foi criado, é que agora ganha, também, uma conotação apocalíptica — o que tendo em conta a situação pandémica que o mundo atravessa, até faz algum sentido.
Tal como acontece na grande maioria das tendências, a peça começou por surgir nas passerelles em 2018. Na altura, a Calvin Klein, dirigida por Raf Simons, e a Gucci de Alessandro Michele — possivelmente influenciadas pela banda russa Pussy Riot — foram as primeiras a incluir o acessório nas suas coleções de inverno. Apesar da proposta destas marcas com grande relevância no meio, naquele ano, a moda não pegou. Ainda assim, a semente então plantada viria a germinar. A balaclava reapareceu nas coleções da estação fria de 2021 de insígnias como Miu Miu, Eckhaus Latta, e Marine Serre, que a recriaram com cores vibrantes e padrões.
E desta vez, a moda pegou mesmo à boleia da exposição que tem tido nas redes sociais. Nomes como a influencer Bárbara Inês, ou a it girl Alexa Chung adoptaram a peça, e a procura por balaclavas cresceu exponencialmente. Segundo dados do motor de pesquisa Lyst, ao longo das últimas semanas, as pesquisas relativas a esta peça aumentaram 64 por cento — tanto nas versões que cobrem a cara por completo como parcialmente. A aplicação de compras Klarna também registou, entre setembro e outubro de 2021, uma subida de 489 por cento de vendas deste tipo de acessório.
Se quiser aderir a esta estranha — apesar de quentinha — tendência, talvez seja preferível optar por uma peça feita num material menos espesso que mostre todo o rosto. Se escolher um modelo colorido ou um padrão divertido o aspeto um pouco bizarro do acessório causará menos impacto. Mostrar um pouco da linha do cabelo também ajudará a esse propósito.
A utilização deste acessório tem motivado, porém, alguma polémica. Apesar de ser feita num material diferente, a balaclava acaba por ter um aspeto bastante semelhante a um véu islâmico. No entanto, este é criticado — e proibido, como acontece em França — e o acessório que protege a cabeça do frio, não.
@malihaness #stitch with @borislavasekova sorry officer you missed the lastest trends, it’s a bAlaClaVa #balaclava #hijab #hood #muslimwomen #racism
Num texto publicado na “Teen Vogue”, Alia Khan, fundadora e presidente da Islamic Fashion and Design Council, abordou o tópico. Apesar de apontar um duplo padrão, defende que a balaclava pode ajudar a desmistificar e naturalizar o uso do véu.
“O que diferencia o grupo religioso que cobre a cabeça, e os formadores de opinião mainstream, é a intenção. Dentro do grupo religioso, alia-se o aspeto externo à vontade de nutrir a alma através das escolhas de moda. Pretende-se entrar em contacto com uma conexão superior, que os muçulmanos acreditam estar relacionada com a forma como o corpo é coberto. O foco do último grupo [que usa a balaclava] está principalmente relacionado com estilo ou a função prática do acessório. No entanto, se estes mudassem a sua intenção, e passassem a incluir o propósito de alcançar uma conexão da alma através das suas opções de moda, os dois mundos podiam alinhar-se. E esse é o poder da moda.”