As meninas boas vão para o céu, as más vão para todo o lado. Mas, agora, vão para todo o lado vestidas com elegantes camisas de laçada, blazers de quadrados e calças de cintura subida com pinças ultramarcadas. É um adeus às armas, ou melhor, ao streetwear, que se vai despedindo sorrateiro dos nossos armários em prol de um novo chique.
Isto é apenas a chegada, ou o regresso, de uma velha tendência, a que gostamos de chamar de new burgeois.
Uma das mais conhecidas lojas de fast fashion do país (e do mundo) está cheia de raparigas que ainda não chegaram à puberdade, acotovelando-se entre charriots de roupa que parece pertencer às suas avós.
Ok, às suas tias solteironas com (alguma) pinta.
Há um grupo de mulheres adultas, que tenta romper por entre a barafunda, sem êxito. Não, não estamos em plena época de saldos nem na véspera de Natal.
A única coisa invulgar, aqui, são as “novidades da semana”, ou as peças que há poucos dias aterraram neste espaço de consumo: em vez do néon, dos dos ténis chunky, dos jeans rasgados e das tracking pants de outras estações, agora há um sem fim de blazers, vestidinhos midi, calças com pinças e blusas de gola subida.
Um ataque descarado da Moda Modesta? Nada disso! Podia ter saído das páginas da revista Town & Country dos anos 70, mas na verdade saiu das passerelles de todo o mundo, principalmente das de Paris, onde Hedi Slimane transformou a Celine numa incubadora de pequenas burguesas.
“Pequenas burguesas?”, pergunta a leitora, enquanto abana a cabeça, incrédula. É isso mesmo. Se quiséssemos ser simplistas (e não queremos), diríamos que o bege está de volta, e que esta cor, associada ao conservadorismo, ressurge com um twist matreiro, quase colegial.
Porque este é, acima de tudo, um estilo elegante e discreto. Inspirado na burguesia parisiense dos anos 70, a sua gama cromática oscila entre os tons mostarda, castanhos, os azuis escuros e os marrons.
No fundo, tudo o que esperamos de um guarda-roupa de outono blasé e polido. Chato? Os casaquinhos dourados com lantejoulas (Celine, acertou), que chamam alto e bom som pelas meninas mais malcomportadas, impedem tal afirmação.
Esta é, acima de tudo, uma tendência ideal para o dia a dia, para os chamados looks de trabalho, muito pela sua sobriedade e classicismo. Por isso não, não é chata, nem boring, é adulta.